sábado, 11 de dezembro de 2010

O LEITOR



O mais recente filme do premiado diretor de “As Horas” e “Bily Eliot”, Stephen Daldry , que tem roteiro adaptado do romance homônimo do escritor Bernhard Schilink, - “O Leitor”- chega aos cinemas brasileiros cercado de muita expectativa, com 5 indicações ao Oscar.
A ação se passa na Alemanha pós- nazista, quando Michael Berg, então com 15 anos tem sua iniciação sexual nos braços de Hanna Schmitz, uma bonita, solitária e misteriosa balzaquiana, de temperamento forte e contraditório.
A relação, claramente edipiana, encontra apoio nas leituras de vários dos maiores clássicos da literatura mundial, que o rapaz fazia para sua amante, durante seus encontros românticos.

“Canta para mim, Ó Musa, o varão industrioso que, depois de haver saqueado a cidadela sagrada de Tróia, vagueou errante por inúmeras regiões, visitou cidades, e conheceu o espírito de tantos homens...”

A leitura desses belos versos da Odisséia de Homero que, tantas vezes antecedia o ato sexual, numa estranha simbologia de poder e fascínio, revela toda a dualidade de sua musa, desenhada em linhas tênues que separam sua figura frágil e sensível, da mulher áspera e amarga de momentos outros.
Que segredos esconderia aquela estranha mulher? Que mistérios estariam submersos nas suas mais profundas entranhas?

Michael, com a ansiedade própria de sua idade, saboreia intensamente as descobertas do sexo, com alguma consciência do fascínio que suas leituras despertam numa Hanna dura e fria.
Assim, a leitura torna-se, paulatinamente, um grande elo entre os dois e o fio condutor da relação.
Mas o repentino desaparecimento da moça traz muito sofrimento ao jovem, que não conseguia esquecê-la, deixando um rastro de melancolia por onde passava.
Alguns anos mais tarde, Michael agora, um estudante de Direito, vê o seu grande amor no banco dos réus, acusada de crimes nazistas.

O rapaz tem aí, um drama de consciência que vai acompanhá-lo pelo resto de sua vida, mas demonstra uma personalidade fraca, ao não promover a defesa da mulher amada quando, só ele poderia oferecer ao Tribunal as provas que atenuariam sua pena. Mas, para isso, ele teria que revelar o maior segredo de sua ex- amante...
E porque não o fez? Por respeito à vontade dela?
Por amor, para não revelar um segredo que nem mesmo ela ousou confessar?
Para não manchá-la da vergonha de ser uma analfabeta, ali, diante de todos?
Por fraqueza? Talvez.
Ou ele a estaria punindo por seus crimes nazistas?
Trilharam caminhos diferentes e um enorme abismo erguera-se entre eles.
Suas almas estavam, inexoravelmente, divorciadas.
Condenada injustamente, a musa suicida-se na prisão e agora, mesmo que ele queira, nada mais pode ser feito e ele compreende amargurado o quanto ela marcou sua vida e que, arrependimentos tardios não a trarão de volta.
Com interpretações intensas e impecáveis de Kate Winslet (que levou o Oscar de Melhor Atriz, pelo trabalho) e Ralph Fiennes, dois grandes atores, a obra do diretor que foi indicado ao Oscar em todos os seus filmes (embora não tenha sido contemplado em nenhuma das indicações), é marcada pela sensibilidade, o que hipnotiza o espectador até a última seqüência.
O mistério segue o seu caminho: estaria o enigma de Hanna escondido numa latinha de chá?
Lola Laborda é Bacharel em Artes/ Cinema e audiovisual/UFBA
AMOR À FLOR DA PELE
Análise Crítica

Obra prima do roteirista, diretor e produtor chinês, Wong Kar-Wai, “Amor à Flor da Pele” é uma das mais belas histórias de amor já transpostas para o mundo da Sétima Arte.
Numa Hong Kong dos anos 60, densamente populosa e sombria, Chow, um escritor e jornalista (Tony Leung, melhor ator no Festival de Cannes por este filme), e Li-Chun (Maggie Cheung), uma belíssima secretária, se encontram na impessoalidade e frieza comuns aos grandes centros urbanos, quando vão morar, com seus respectivos cônjuges, em quartos alugados em pequenos apartamentos, como era o costume da época.
Vizinhos e solitários, já que seus companheiros viajam bastante, descobriram que estavam sendo traídos por seus companheiros que estavam tendo um caso, e começaram a “esculpir” uma forte amizade que aos poucos, num crescendo, deságua em amor e paixão. Um amor pulsante, mas exageradamente contido, que está sempre presente no ar, embora jamais ultrapasse a barreira da ponderação, da ética e da racionalidade, no melhor estilo dos filmes “noir”, onde o cheiro de sexo reprimido se faz presente em todos os momentos do filme.
A narrativa seria clássica se não fosse ímpar e ricamente moderna, destacando a densa e marcante fotografia de Christopher Doyle que, explora na medida certa, os tons pastéis,
os escuros e os tons mais fortes, com o contraste das luzes e sombras da noite , tudo meticulosamente bem dosado, contrastando com a profusão de cores vibrantes, de um co-protagonista em especial, que ganha “vida própria”, por assim dizer: o figurino. Os lindíssimos e coloridos cheongsam, (vestidos chineses) usados pela atriz Maggie Cheung, e que o diretor, no auge da sua criatividade, utilizou para fazer a passagem do tempo. Um novo dia surge sempre, com um novo cheongsam, que além de interpretar o seu próprio papel, de contraponto das cores da estética da narrativa, valoriza a silueta feminina, como para compactuar com todo o clima de sensualidade presente no filme, dando uma pincelada no estado emocional da protagonista, naquele dia ou momento.
Ou seja que, parafraseando Lotte Eisner, “o vestuário não é jamais, um elemento artístico isolado” e nesse filme, particularmente, ele é um personagem à parte. Um personagem realista, desenhado de acordo com a época e a cultura oriental, carregado de subtextos e sutilezas , de onde se pode perceber, claramente, o traço firme do diretor.
A interpretação impecável dos protagonistas visivelmente, em estilo estático e método Stanislavskiano, redobra a carga dramática da obra, à potência máxima, tornando-a inesquecível e obrigatória, para estudiosos do cinema e o público em geral.
Num toque de genialidade, absolutamente intencional, o diretor, opta por colocar os antagonistas (traidores) recolhidos à sua total insignificância na obra, valendo-se de várias elipses de estrutura, em todos os planos onde eles “aparecem”, geralmente de costas, em planos fechados ou, extra-campo onde apenas suas vozes em off registram sua breve passagem pela obra , levando o público ao delírio do suspense, ampliando seu interesse pelo desenrolar da ação e, fazendo com que o espectador vivencie o fenômeno da projeção-identificação (teorizado por Edgar Morin em seu texto “A Alma do Cinema”), apenas com o casal de traídos , o que contribui sobremaneira, para o fortalecimento da estrutura da “carpintaria” da obra.
O jornalista Chow decide ir trabalhar em Cingapura, não antes de convidar Li para ir com ele, para longe dos olhares indiscretos, vivenciarem a paixão de ambos, em toda a sua plenitude.
Após uma angustiante espera no quarto 2046, ele percebe que ela não vem, apaga as luzes, e sai. O diretor deixou a tela completamente preta por mais segundos do que o necessário o que valoriza a tomada seguinte, quando ele abre a porta e a luz do dia entra no quadro. Li vai correndo ao encontro de Chow, pela última vez, no hotel. Ela veste um cheongsam verde, a cor da esperança. Talvez da esperança de conseguir vê-lo, antes da partida.
Mas ela chega atrasada e chora relembrando o convite de Chow para ir com ele...É demasiado tarde!
A trilha sonora também é um personagem. Um personagem que viaja da China para os trópicos, unindo a sobriedade oriental com a sensualidade latina da voz de um Nat King Cole, eternamente soberbo.
Chow retorna à Hong Kong cinco anos depois e vai visitar o dono do apartamento onde morou não o encontrando mais. Li morava no mesmo apartamento de antes, desta vez sozinha e...com um filho de cinco anos! O casal não se reencontra.
E Wong cria uma linha de fuga, escapando pela tangente.
Seria de Chow o filho da bela chinesa? Podemos pensar que sim, porque houve um dia em que ela disse-“Hoje eu não quero voltar pra casa.” Mas na maior e mais angustiante elipse da obra, o diretor guarda consigo a chave do segredo e se firma como o nome mais expressivo do novíssimo cinema de autor da ex China de Mao.

Lola Laborda é Bacharel em Artes/Cinema e Audiovisual/UFBA
Aborto: Uma abordagem ampliada.

As eleições de outubro último se foram, mas deixaram um questionamento, no mínimo, curioso: o candidato direitista, José Serra, ao invés de colocar em discusão seu projeto de governo, trouxe à baila um tema polêmico para o centro das discussões, apostando no conservadorismo da população brasileira. Assim, o aborto foi o tema recorrente nas eleições de 2010, no Brasil.
O Movimento de Mulheres no Brasil vem lutando há anos pela discriminalização do aborto alegando o livre arbítrio das mesmas pelo Direito de decidir, sobre uma questão tão delicada, que só à elas diz respeito.
A Igreja Católica é terminantemente contrária e interfere nos processos progressistas a ponto de “emperrar” a legislação, que não caminha na direção da linha do horizonte, o que dificulta, sobremaneira o avanço da sociedade em torno dessa questão, que é um tema que só a ela cabe decidir .
Argumentando que o aborto deixa seu rastro de morte, a Igreja faz a retórica da preservação da vida, mesmo em casos de gestações contraídas através do estupro e em casos de má formação fetal, o que é um absurdo incomensurável.
Mas que vidas a Igreja quer preservar? Não se pode tirar a vida de um feto, mas pode-se contribuir para o aumento do número relativamente elevado, da mortalidade materna em conseqüência de abortos mal realizados? Dessa forma, só as mulheres oriundas das populações mais pobres, são prejudicadas, porque as mulheres cujas condições econômicas lhes permitem, praticam o aborto em clínicas particulares, com toda a assistência médica qualificada, quando não o fazem, em outros países, onde a legislação admite o aborto legal.
É incompreensível que, com problemas internos tão graves, como a pedofilia dos padres católicos, que fazem votos de castidade ao abraçar a vida religiosa, a Igreja Católica continue interferindo nos assuntos relevantes para o conjunto da sociedade, impondo seus dogmas, esquecendo a abrangência das variadas matizes de credo, num país essencialmente plural, sob todos os aspectos, inclusive o religioso e que não podemos submeter a totalidade da população ao ditames do Vaticano. Sabemos que só o Estado laico avança, nas questões sociais e que só a plena democracia garante direitos igualitários para o conjunto da sociedade.

Lola Laborda é acadêmica do Bacharelado Interdisciplinar de Artes-Área de Concentração Cinema e Audiovisual da UFBA.
Signo e Persuasão- Resenha Crítica.


O texto “Signo e Persuasão- A Natureza do Signo Linguístico”, capítulo 3, da obra completa assinada por Adilson Citelli, (Série Princípios), publicado pela Editora Ática, é um caminho para a interpretação dos signos na construção do discurso persuasivo que emerge, a partir da estrutura e das funções desses “sinais” simbólicos gerados pela semiologia e que deságuam, em distintos olhares e leituras, na conceituação do discurso persuasivo, ou, na significação deste, tomando como base a teoria de Ferdinand de Saussure, lingüista e filósofo suíço, onde o “significante” e o “Significado” , assumem um papel decisivo nas leituras interpretativas- persuasivas, conduzindo o leitor ao conceito de significação, colocando em evidência a arbitrariedade do signo, demonstrada pela inexistência de uma inter-relação direta entre o “significante” e o “significado” e seu conteúdo simbólico.
O autor se permite um alinhamento com o pensamento de Mikhail Bakhtin, teórico marxista Russo, segundo o qual, é impossível a desvinculação entre signo e ideologia já que o discurso ideológico é permeado de signos e , o estudo dos signos nos leva, inexoravelmente, aos valores ideológicos dessas construções, sendo Bakhtin conclusivo, ao afirmar que “sem signos, não há ideologia”.
Citelli ratifica o pensador Russo, demonstrando todo o teor ideológico da foice e do martelo, na ideologia comunista, traduzindo a união dos trabalhadores urbanos e rurais do ex- Estado Soviético, e de como as instituições se apoderam dos signos como “correia de transmissão” de seus interesses ideológicos, como o pão para a Igreja Católica, que assume a conotação religiosa, de “corpo de Cristo”, e que as organizações sociais desempenham um papel central, de fundamental importância na construção e consolidação do discurso persuasivo ideológico, através dos signos.
Segundo Marilena Chauí, em seu artigo sobre sociedade, ética, e um discurso “autorizado”, onde a competência vem antes da ética, desconsiderando a natureza e a finalidade dos feitos, a grande filósofa brasileira chega a destacar que “Deus e o Diabo, podem diferenciar-se na terra do sol, mas, no tocante à organização produtiva, eles se misturam, não importando, no entanto, para quem os bens se voltam”.
Citelli, apresenta em seu excelente e muito elucidativo texto “Signo e Persuasão- A Natureza do Signo Linguistico”, uma considerável variação de olhares e saberes a respeito dos signos que fazem o discurso persuasivo, apoiado por teorias de Ferdinand de Saussure à Marilena Chauí, por sinal, uma crítica mordaz da visão Aristotélica que embasa toda a teoria do autor.
O texto, leve é “palatável” a todos os níveis da esfera acadêmica, e mostra-se muito eficiente, como um primeiro contato e ponto de partida para uma minuciosa e ampliada pesquisa sobre os meandros da lingüística e sua contribuição para a construção e fruição das diversas gamas de discursos persuasivos, e de como os signos lingüísticos participam ativamente da nossa vida cotidiana na elaboração destes, com a sua mensagem subliminar.
Fica muito claro, também, o uso deliberado e indiscriminado que as instituições fazem destes signos e de como as sociedades estão vulneráveis às mensagens codificadas de ideologias políticas (como Hitler usou bem isso!), religiosas, e culturais, num mundo cada vez mais globalizado. Na “Sociedade do Espetáculo”, como diria o filósofo francês, Guy Debord , e na era da informação, podemos pensar, inclusive, de como pode ser temeroso o uso dos signos lingüísticos em mãos inescrupulosas.
Adilson Citelli, mestre em Letras e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo- (ECA/USP), para quem “o elemento persuasivo está colado ao discurso como a pele ao corpo”, teve excelente receptividade, de um público bastante variado, ao lançar seu livro –“Linguagem e Persuasão”, da Série Princípios, da Editora Àtica", sua tese de Doutoramento que lhe trouxe reconhecimento nacional e status de referência no assunto.
Parafraseando o autor, “persuadir não é sinônimo imediato de mentira ou coerção, mas que os resultados dependem do comportamento adotado no discurso. E que para existir persuasão, condições são estabelecidas e a principal delas é a existência da democracia, que permite a livre circulação de idéias”.
Signo e Persuasão é um texto recomendável para acadêmicos, não apenas da área de Letras, mas também, das áreas de sociologia, Antropologia, Comunicação, Artes, Cinema, Marketing e Propaganda, enfim, um texto muito abrangente para leitores que desejam ampliar sua visão de mundo , em especial, do mundo da comunicação.

Lola Laborda,Bacharel Interdisciplinar em Artes, com habilitação em Cinema e Audiovisual, da Universidade Federal da Bahia-UFBA- Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos- IHAC-
Ciberfeminismo: afinal, que “bicho” é esse!?

As novas tecnologias da comunicação que estão colocadas para o século XXI, redesenham o espaço geopolítico redimensionando as relações comerciais, políticas, sociais e até mesmo pessoais, num mundo cada vez mais globalizado e impulsionam o desenvolvimento social em consonância com os novos paradigmas de ativismo social, cultural e político do novo momento em que vivemos.
Os movimentos sociais souberam se apoderar muito bem dessa ferramenta de comunicação em massa, ampliando sua capilaridade, proporcionada pelo rompimento das barreiras de tempo e espaço das novas tecnologias colocadas à sua disposição.
O Movimento Feminista, como um dos movimentos mais sólidos e organizados do mundo, desde seu surgimento, nos anos 60 e 70, quando as mulheres norte-americanas queimaram seus “soutiens” em praça pública, não poderia ficar à margem dessas mudanças e dessincronizado com os novos tempos e cada vez mais os temas envolvendo as questões de gênero e Tecnologia entram em pauta no novo ativismo em redes: o Ciberfeminismo.
Tudo começou quando a Condessa britânica, Ada Lovelace (1815-1852) criou o primeiro programa de computador da sociedade ocidental. A partir de então, as mulheres ganharam novas ferramentas de intervenção na realidade, mobilizando as mulheres do mundo inteiro para a exploração do Ciberespaço como meio de expressão, das demandas feministas ou o feminismo em Redes - o Ciberfeminismo.
Por isso, a partir de 2009 comemora-se, internacionalmente, o ADA LOVELACE DAY, em 24 de março, dia em que é amplamente divulgado todos os avanços obtidos pelas mulheres na área de Ciência e Tecnologia.
No Brasil esse movimento está em curva ascendente, e as questões da mulher e da tecnologia na contemporaneidade, estão intimamente ligadas à tecnologia e movimentos sociais.
Ciberfeminismo, expressão cunhada na Austrália, pelo coletivo de artistas (Virginia Barratt, Francesca da Rimini, Juliane Pierce, Josephine Starrs,) surgiu na Europa dos anos 90, com a divulgação do Manifesto Ciberfeminista para o Século XXI, divulgado pelo grupo VNS MATRIX, composto pelas quatro artistas acima mencionadas.
No Brasil, entre tantos coletivos de mulheres atuando em Redes, podemos citar o CEMINA- uma Organização Não Governamental-ONG- que luta pela ampliação dos espaços da mulher brasileira, utilizando o ativismo em Redes - ciberfeminismo – para alcançar seus objetivos. e que apresenta como carro-chefe o Programa Fala Mulher, ministrou 300 cursos de capacitação em Rádio para comunicadoras populares, a Rede de Mulheres no Rádio que coloca 400 comunicadoras no ar, a Rede Cyberela- capacitação de 29 comunicadoras para uso do Ciberespaço através das ondas do Rádio e implantação de 15 tele centros para um amplo Programa de Inclusão Digital. (www.cemina.org.br).
Após 16 anos de atuação, hoje o Cemina é responsável pelo maior arquivo sonoro com temática feminista, de todo o território nacional.
Entre suas ações destacam-se ainda, a facilitação de divulgação de conteúdos áudio via web e a democratização do acesso e conteúdos da Internet e, construiu ao longo de sua existência, um invejável legado em prol da mulher brasileira e seu desenvolvimento na sociedade.
Recebeu vários prêmios por sua atuação e programas onde se pode destacar o Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo- 1988- na Categoria Rádio e o Prêmio Claudia (Revista Claudia) pela excelente estratégia pela cidadania feminina.
Digno de menção, temos ainda o coletivo BR.ADA, composto por cinco mulheres de Belo Horizonte, São Paulo, Rio e Barcelona que pesquisa o elo entre mulheres e tecnologia e Artes e meios de Comunicação. Que entre outros objetivos, promove e difunde a produção artística realizada por mulheres, focalizando, especialmente, o Brasil e a América Latina, buscando ainda, focar as questões de gênero e tecnologia, já que o tema é pouco difundido por aqui.
É assim que trabalham, Anaisa Franco, Marina Gazire, Lilian Campesato e Vivian Caccuri as integrantes do Coletivo BR.ADA, que também procura analisar a produção da mulher que trabalha com a tecnologia, como ferramenta fundamental de trabalho.
O nome do grupo evidencia uma singela homenagem à condessa britânica, Ada Lovelace, já mencionada acima.
Novos tempos, novas formas de ver e vivenciar o feminismo. O tema está em evidência no Brasil, agora mais do que nunca, quando acabamos de eleger nossa primeira mulher para ocupar a Presidência da República, “como nunca antes na história desse país”.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

domingo, 14 de março de 2010

Experiências das Sociedades ou Sociedades das Experiências?

“A globalização é a terceira revolução existencial vivida pelo homem.”
Essa conclusão parte de Noam Chomsky, em seu livro “A Sociedade Global”, escrito em parceria com Heinz Dieterich, onde são analisados os efeitos e os impactos da globalização na educação, no mercado e na democracia.
Estamos, sem dúvida, vivendo uma nova ordem mundial, onde os efeitos da chamada sociedade global, inexoravelmente, vão muito além de uma (equivocada) economia de livre mercado ou neoliberal, com impactos socioculturais, até então, inimagináveis.
O processo, visto como irreversível por seus seguidores – e amplamente contestado pelo grande geógrafo e pensador Milton Santos no documentário de Silvio Tendler “O Mundo Visto do Lado de Cá” –, teve o seu “crepúsculo” com a recente crise econômica dos Estados Unidos e a estatização de bancos norte-americanos, desmoronando um dos grandes dogmas neoliberais, pilares da globalização sustentada pelos media...
O desafio é coletivo e aponta para temas transversais como: responsabilidade social, direitos humanos, educação, soberania, democracia, ciberespaço, convergência de mídias, cidadania e cultura, dentre outras questões não menos relevantes.
A experiência humana vem sofrendo inúmeras e rápidas transformações desde os séculos XVIII, XIX e início do século XX, quando as sociedades disciplinares se “enjaulavam” em seus “territórios” de confinamento, como a família, a escola, a fábrica, as prisões e os hospitais, como num círculo vicioso de um eterno “flashback”, para daí cair na “cova dos leões” das sociedades de controle, onde o dinheiro e a informação substituem a superada sociedade disciplinar.
Na sociedade contemporânea, o homem deixa de ser o protagonista e o sujeito da ação verbal para ser mero coadjuvante da supremacia da imagem sobre a palavra na comunicação de massa, transformando o planeta num grande “Big Brother Mundial”.
A alta tecnologia, na era da comunicação, coloca-se, então, como intermediária da experiência humana, fazendo do compartilhamento das emoções, no campo cognitivo da experiência individual, parte integrante da experiência coletiva, interferindo no processo civilizatório da humanidade, na sua incessante busca de transformação do mundo.
Observamos que mesmo na dicotomia do universo imagético de Monclar Valverde e do mundo da oralidade de Larrosa, onde a palavra é a ponte para as experiências humanas (no campo da educação e do saber), atribuindo valores distintos para a imagem e para a palavra, vamos desaguar na mesma inquietação do saber e da experiência como resultado da (des)informação das sociedades contemporâneas, onde os mecanismos de controle mediáticos protagonizam o filme do cotidiano, conduzindo as interpretações coletivas para a vala comum dos escusos interesses políticos e econômicos de grandes conglomerados da Comunicação, interferindo, de forma substancialmente nociva e arbitrária, nas interpretações de significados simbólicos, imagéticos e dialéticos.
A democracia é a “rainha” desse jogo de xadrez e, enquanto ela sofre mais um cheque-mate, uma pergunta ressoa no ar:
É, de fato, preciso um caos dentro de si para gerar uma estrela dançante????

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Documentos da Ditadura Militar no Brasil!

Aeronáutica entrega parte de documentos sobre ditadura
Dom, 28 Fev, 08h09



Após quatro anos de pressão do governo, a Aeronáutica entregou ao Arquivo Nacional, no início do mês, pelo menos parte dos documentos secretos que produziu durante a ditadura militar. A própria Aeronáutica informara anteriormente que esses itens haviam sido destruídos, o que reaviva a suspeita de que as Forças Armadas mantêm escondidos papéis sigilosos da ditadura.


O arquivo inédito faz parte do acervo do Centro de Segurança e Informação da Aeronáutica (Cisa). São 189 caixas, com aproximadamente 50 mil documentos acumulados nos governos militares, entre 1964 e 1985. O lote inclui informações sobre Ernesto Che Guevara, Fidel Castro e Carlos Lamarca. No acervo estão fichas pessoais, relatórios de monitoramento, instruções a militares e papéis referentes à Guerrilha do Araguaia.


A análise de alguns dos informes do Cisa indica que documentos importantes podem ter sido retirados antes da entrega ao Ministério Público Militar. O acervo, em fase de catalogação, não está disponível para consulta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Velha (Des) Ordem Mundial.



“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
Lola Laborda *

A História comemora com justo júbilo, neste novembro de 2009, a queda do Muro de Berlim , erguido em 13 de agosto de 1961, pela RDA- República Democrática Alemã, controlada , pelo regime totalitário do Governo Soviético, durante a Guerra Fria e, dividiu ao meio a cidade de Berlim, numa das maiores atrocidades a que o mundo


Da noite para o dia, o Exército Vermelho ergueu um muro de 155 km,construiu cercas de arame farpado eletrificadas, no intuito de evitar as constantes fugas para o lado ocidental e, muito mais que duas cidades, separou os sentimentos de amor de famílias, amantes, pais e filhos que, permaneceram 28 anos nessa situação de horror, amargando as saudades de seus entes queridos que viviam do outro lado do muro, numa das mais cruéis demonstrações de desrespeito aos Direitos Humanos da História Contemporânea.


No final da Segunda Guerra, os americanos lançaram o Plano Marshall, visando a recuperação econômica de toda a Europa devastada pelo conflito, o que despertou a ira de Stalin que, bloqueou todos os pontos terrestres de acesso à Berlim Ocidental deixando sua população sem alimentos . Mas um fato curioso aconteceu. Os aliados vencedores, garantiram o abastecimento da população Berlinense por via aérea por 462
dias,levando alimentos, combustíveis e até mesmo pinheiros para as árvores do Natal de 1949, num exemplo ímpar de solidariedade humana que ficou registrado na história da aviação e num dos primeiros embates da “guerra fria” que se iniciava .


Segundo o Historiador Britânico, Eric Hobsbawm, um homem de visão esquerdista, a queda do Muro de Berlim “desestabilizou a Ordem Mundial” e gerou um clima de insegurança generalizada e que, uma das mais desastrosas conseqüências da queda do Muro em 1989, foi o realinhamento de uma nova cartografia geopolítica mundial, favorável à hegemonia norte-americana, o que caracterizou uma vitória do capitalismo sobre a ideologia comunista.

No ano passado assistimos atônitos, à inimaginável crise financeira que atingiu o “coração” de Wall Street (Rua do Muro, por ironia do destino), centro financeiro de Nova York e abalou as estruturas do capitalismo o que gerou uma crise econômica global, num simbolismo análogo aos fatos de Berlim 1989. Caiu o “Muro da Vergonha” da ideologia neoliberal, expondo toda a fragilidade do sistema capitalista.

Apesar da falta de registros oficiais, estima-se em milhares as vítimas fatais pela travessia da fronteira do Muro de Berlim. Ainda assim, a humanidade com seu instinto fraticida parece nada apreender com os exemplos expostos e em 1994 os Estados Unidos ergue o seu muro na fronteira com o México, separando as cidades de Tijuana e San Diego, na Califórnia, exemplo seguido por seus aliados israelenses em 2002, quando Ariel Sharon construiu uma muralha segregacionista que separa a Cisjordânia do Estado de Israel, declarada ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça de Haia. Segundo ativistas de Direitos Humanos, a muralha adentra terras palestinas carecterizando anexação ilegal de território pelo Estado de Israel , cujo controle militar atravanca o desenvolvimento do povo palestino e dificulta assintosamente a aproximação de ajuda humanitária, contrariando a Declaração Universal dos Direitos Humanos.


O fato concreto é que a queda do Muro de Berlim é um acontecimento emblemático para o Século XX e marca, a priori, o fim do confronto entre dois mundos distintos e suas conseqüências precisam ser analizadas para além das questões políticas, ideológicas e econômicas mas, é preciso que se analise as rachaduras deixadas no capital humano para saber se temos, realmente, o que comemorar.

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Artigo1º. Declaração Universal dos Direitos Humanos.









sábado, 20 de fevereiro de 2010

Cinema: Uma Lição!


Educação, An Education, de Lone Scherfig

Por: Francisco Taunay
Este filme confronta dois diferentes tipos de educação: aquela que se aprende na escola, na universidade, que prepara a pessoa para uma vida profissional e uma outra, referente à própria experiência da vida em si, das amizades, relações amorosas, viagens. Se por um lado é importante a dedicação aos estudos, que vão preparar a jovem Jenny para estudar em Oxford, sua relação com um homem mais velho lhe tira a inocência e pode atrapalhar os tão sonhados planos de seu pai.

Na verdade, a tradução deveria ser Uma Lição, que parece mais com o título original, bem como tem mais a ver com o filme. Sim, uma lição que faz uma menina criada na conservadora Londres dos anos 60 aprender a viver melhor sua vida, dividida entre o caminho ideal, traçado desde a sua infância por seus pais e o real, criado a partir dos acontecimentos da sua vida direcionada pela sua admiração pela cultura francesa, seus pequenos pecados e vícios, sua curiosidade e vontade de viver, de aproveitar a vida.

É um filme intimista, bastante simples. Um filme feminino, que faz as moças, principalmente aquelas que se identificam com a personagem, vibrarem no cinema. Ele mostra como a sedução, aquela exercida pelo Lobo Mau travestido de Vovózinha sobre a Chapéuzinho Vermelho, pode levar à perdição; principalmente quando não temos o Lenhador para corajosamente nos salvar e, então, precisamos nos virar sozinhos. Sim, ao assistir ao filme o leitor certamente vai entender o que digo.

Esta possibilidade de escolhas, de se criar uma história para si mesmo, fazendo da sua vida uma espécie de obra de arte, é um presente dos tempos modernos. Antes, quando alguém era criado para ser guerreiro, padre, camponês ou artesão, geralmente seguindo a profissão do pai, creio que havia uma maior direção e menos espaço para a fortuna. Fortuna no sentido de sorte, de acaso.

Sempre vai acontecer em nossas vidas um embate entre o ideal, o sonhado e esperado, com o real, o que efetivamente acontece, com um intervalo maior ou menor entre estes dois pólos. Um amigo já dizia que a felicidade de alguém depende da distância do que se é e do que se gostaria de ser. Manuel Bandeira já escreveu, naquele famoso poema do Pneumotórax, sobre Tudo o que poderia ter sido e que não foi.

Sim, é uma espécie de reflexão do Carnaval, sob o ponto de vista da Quarta-Feira de Cinzas. O que faz uma vida ser colorida? Ou opaca? Qual será a medida do divertimento e do dever? Estas perguntas só podem ser respondidas ao longo da própria trajetória da existência. Mas quem sabe um filme, com sua despretensão de contar uma estória pode dar alguma dica sobre o caminho a ser percorrido? Ou mesmo nos proporcionar ferramentas para decidir, não de forma mais correta, mas ao menos de maneira mais consciente.

Article printed from Opinião e Notícia: http://opiniaoenoticia.com.br

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Livro- A Moda nas Obras de Arte




Por:Emanuelle Bezerra

A doutora em artes pela USP Cacilda Teixeira da Costa decidiu investigar, durante três anos, como a moda foi retratada na arte ao longo dos últimos quatro séculos. O resultado é o livro Roupa de Artista – O Vestuário na Obra de Arte que ela acaba de lançar.

Cacilda traz inúmeros episódios capazes de contar a história tanto da arte como da moda. A análise de como a moda influencia a arte começa em obras renascentistas e chega aos dias atuais, em que, como a autora pontua, as próprias peças do vestuário e figurino são obras artísticas.

Pinturas, esculturas, instalações, gravuras, figurinos de inúmeros artistas integram o livro. O Brasil entra no livro com os parangolés de Hélio Oiticica e os trajes tropicais de Flávio de Carvalho. A intenção de Cacilda é mostrar como a roupa passou, com o decorrer do tempo, de um elemento complementar a um importante protagonista.

Como um contraponto à indumentária, a autora também dá exemplos de clássicos da nudez, como em Ticiano, nas Majas de Goya ou em Monet. Cacilda explica que a relação da roupa com o corpo e o poder de reafirmar uma identidade são tão instigantes que poucos mestres do passado ou contemporâneos conseguiram “ficar imunes ao seu extraordinário fascínio”.

As técnicas desenvolvidas para retratar os tecidos, as texturas, drapeados e outros detalhes, são um exemplo que Cacilda dá de como a moda influenciou a história da arte. A maneira como isso ocorreu varia de acordo com o tempo e as circunstâncias em que o artista estava inserido. Ela cita como exemplo o pintor Diego Velázquez, um mestre na descrição pictórica dos trajes da corte, que conseguiu dobrar o então rei da França, Luis XIV, que estava para casar com a filha de Felipe IV, rei da Espanha. Com a corte em decadência e não querendo aparentar esta situação com roupas inferiores, Felipe IV contratou o pintor que desprezou o vermelho da realeza e vestiu os nobres de preto para realçar as rendas e joias prateadas. A ousadia de Velásquez impressionou os franceses.

Mas, a autora pontua que foi na primeira metade do século XIX que o realismo descritivo chegou, talvez na obra de Ingres, que deu a mesma importância ao rosto, às mãos e ao vestuário. Logo em seguida o pintor e escultor francês Edgar Degas utilizou o próprio vestuário como parte integrante da obra de arte, abrindo perspectivas para as vanguardas que viriam em seguida.



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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

E EIS QUE NO MEIO DO CACTUS... NASCE UMA FLOR...

A mais bela obra escrita por um prisioneiro já registrada até os nossos dias são, sem sombra de dúvida, os “Cadernos do Cárcere”, de Antonio Gramsci, morto em 1937 em consequência de maus-tratos sofridos nas prisões do fascismo, na Itália, que dizem ter inspirado outras incursões do gênero na literatura mundial.
No Brasil, o relato mais brilhante é “Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos, também preso político, embora não sejam raros relatos de presos “comuns”, ou seja, não egressos da militância política, mas do submundo do crime.
Exemplo disso é a análise contundente que nos traz Selligman-Silva sobre o livro de Luiz Alberto Mendes, “Memórias de Um Sobrevivente”, onde o autor narra sua trajetória desde a infância, mergulhada num caótico ambiente familiar, até o diploma de Bacharel em Direito, num percurso longo e doloroso entre os recorrentes espancamentos de um pai alcoólatra, por quem nutria, compreensivelmente, um ódio brutal, e as duras passagens pelos reformatórios (ou deformatórios) e presídios paulistas.
Sabemos que o sistema prisional no Brasil é uma espécie de “sucursal do inferno”, como coloca Selligman com muita propriedade, diga-se de passagem, e que esses subterrâneos sociais necessitam, imperiosamente, de uma reestruturação tão radical quanto possível que permita impulsionar uma efetiva reintegração daqueles que mergulharam na penumbra social, política e econômica, no momento em que conduziram suas vidas para a contramão da sociedade.
Como contraponto dessa publicação, MV Bill e Celso Athayde, no excelente documentário “Falcão”, desenham todo o contexto social em que é forjado um bandido pelo submundo do tráfico de drogas, desviando, cada vez mais precocemente, os nossos jovens para o mundo do crime, colocando-nos cara a cara com a radiografia da “fratura exposta” da sociedade brasileira, onde o usuário alimenta o tráfico, que se realimenta do usuário, num círculo vicioso que se fecha em si mesmo, sem encontrar uma saída.
O “muro da vergonha” do sistema capitalista, que separa alguns privilegiados de milhões de despossuídos, começa a ser erguido na mercantilização da educação, no sucateamento da escola pública e na falta de horizontes para as camadas menos favorecidas da sociedade, onde nascem o traficante, a prostituta, o menor infrator, o criminoso, os excluídos...
A pedagogia de Paulo Freire, que defende uma educação integral para o homem como sujeito de sua própria história, e não objeto de outros, poderia ser a “revolução silenciosa” tão sonhada por Gramsci.
A obra testemunhal de Mendes ganha, então, maior profundidade e importância enquanto denúncia. Apresenta um substancial valor literário, extrapolando os limítrofes destes para as esferas social e política, fazendo do biografado uma persona, um exemplo de tenacidade que consegue encontrar, no meio do caos, o seu ponto de equilíbrio, demonstrando que iniciativas isoladas sinalizam que há luz no fim do túnel. Infelizmente, casos como este não representam a regra, mas a exceção desta.
Luiz Alberto Mendes é, com certeza, um sobrevivente!
Sobrevivente de uma tragédia social gestada por um sistema excludente.

O Leitor

Envolvente, inquietante, arrebatador...!
Assim é - “O Leitor”- filme de Stephen Daldry, que tem roteiro adaptado do romance homônimo do escritor Bernhard Schilink.
A ação se passa na Alemanha pós nazista, quando Michael Berg, então com 15 anos, tem sua iniciação sexual nos braços de Hanna, uma bonita e misteriosa balzaquiana, de temperamento forte e contraditório.
A relação claramente edipiana, apóia-se nas leituras de vários dos maiores clássicos da literatura mundial, que o rapaz fazia para sua amante, durante seus encontros românticos.

“Canta para mim, Ó Musa, o varão industrioso que, depois de haver saqueado a cidadela sagrada de Tróia, vagueou errante por inúmeras regiões, visitou cidades, e conheceu o espírito de tantos homens ...”

A leitura desses belos versos da Odisséia de Homero, que tantas vezes antecede o ato sexual, numa estranha simbologia de poder e fascínio, revela toda a dualidade de Hanna, desenhada em linhas tênues que separam sua figura frágil e sensível, da mulher áspera e amarga de momentos outros.
Que segredos guardaria aquela estranha mulher? Que mistérios esconderia Hanna nas suas mais profundas entranhas ????

Michael, com a ansiedade própria de sua idade, saboreia intensamente as descobertas do sexo, com alguma consciência do fascínio que suas leituras despertam numa Hanna dura e fria.
Assim, a leitura torna-se, paulatinamente, um grande elo entre os dois e o fio condutor da relação.
O repentino desaparecimento de Hanna traz muito sofrimento ao jovem Michael que, não conseguia esquecê-la.

Alguns anos depois, Michael, agora um estudante de Direito, vê Hanna no banco dos réus, acusada de crimes nazistas.
Michael tem aí, um drama de consciência que vai acompanhá-lo pelo resto de sua vida, mas demonstra uma personalidade fraca, ao não promover a defesa de Hanna, quando só ele poderia oferecer ao Tribunal as provas que atenuariam sua pena....Mas ele teria que revelar o segredo de Hanna...

E porque não o fez!? Por respeito à vontade de Hanna!?? Por amor, para não revelar um segredo que nem mesmo ela ousou confessar?? Para não manchá-la da vergonha de ser uma analfabeta???
Por omissão??? Por fraqueza???
Ou estaria Michael punindo Hanna por seus crimes nazistas?????
Hanna suicidou-se na prisão e inúmeros questionamentos ficam no ar....
Estaria o enigma escondido numa latinha de chá???

Minha Terra Tem Palmeiras

Minha Terra Tem Palmeiras!



Muito lindo! Viajamos com Saramago e Chico Buarque num documentário sobre a Língua Portuguesa....
E a Língua, que é chamada de Língua Pátria e também de Língua Mãe, quando muda de Pátria e quando muda de Mãe....Continua a mesma...Sim, continua a mesma língua portuguesa...Mas durante sua viagem, vai perdendo alguma coisa aqui , lá e acolá...E ganhando outras lá e cá...a língua vai “trocando de roupa”, de lugar em lugar...mudando suas características, ganhando novas conotações, novas expressões e significados...
E vai “mudando de cor” como um camaleão, ao sabor dos ventos que sopram em outras regiões, longe do Tejo e dos fados, desenhando novas cartografias lingüísticas, num constante processo de transmutação, evidenciando o dinamismo da língua portuguesa.
A geografia humana estabelece novas formas de se relacionar, enquanto a língua vai ganhando variadas “cores” e “matizes”, na medida em que absorve diferentes culturas, que interferem, diretamente, no processo de “miscigenação” lingüística, revelando toda a pluralidade da língua, em seus diferentes sotaques, espalhados pelo mundo, o que nos remete à afirmação do escritor José Saramago, de que não existe uma única língua portuguesa mas, várias línguas portuguesas.
Assim, o português de África jamais será igual ao do Brasil e este, bem distinto do de Portugal e, embora conservem características semelhantes, “as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”...
Porém, uma certeza fica no ar: “minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”!