sábado, 11 de dezembro de 2010

O LEITOR



O mais recente filme do premiado diretor de “As Horas” e “Bily Eliot”, Stephen Daldry , que tem roteiro adaptado do romance homônimo do escritor Bernhard Schilink, - “O Leitor”- chega aos cinemas brasileiros cercado de muita expectativa, com 5 indicações ao Oscar.
A ação se passa na Alemanha pós- nazista, quando Michael Berg, então com 15 anos tem sua iniciação sexual nos braços de Hanna Schmitz, uma bonita, solitária e misteriosa balzaquiana, de temperamento forte e contraditório.
A relação, claramente edipiana, encontra apoio nas leituras de vários dos maiores clássicos da literatura mundial, que o rapaz fazia para sua amante, durante seus encontros românticos.

“Canta para mim, Ó Musa, o varão industrioso que, depois de haver saqueado a cidadela sagrada de Tróia, vagueou errante por inúmeras regiões, visitou cidades, e conheceu o espírito de tantos homens...”

A leitura desses belos versos da Odisséia de Homero que, tantas vezes antecedia o ato sexual, numa estranha simbologia de poder e fascínio, revela toda a dualidade de sua musa, desenhada em linhas tênues que separam sua figura frágil e sensível, da mulher áspera e amarga de momentos outros.
Que segredos esconderia aquela estranha mulher? Que mistérios estariam submersos nas suas mais profundas entranhas?

Michael, com a ansiedade própria de sua idade, saboreia intensamente as descobertas do sexo, com alguma consciência do fascínio que suas leituras despertam numa Hanna dura e fria.
Assim, a leitura torna-se, paulatinamente, um grande elo entre os dois e o fio condutor da relação.
Mas o repentino desaparecimento da moça traz muito sofrimento ao jovem, que não conseguia esquecê-la, deixando um rastro de melancolia por onde passava.
Alguns anos mais tarde, Michael agora, um estudante de Direito, vê o seu grande amor no banco dos réus, acusada de crimes nazistas.

O rapaz tem aí, um drama de consciência que vai acompanhá-lo pelo resto de sua vida, mas demonstra uma personalidade fraca, ao não promover a defesa da mulher amada quando, só ele poderia oferecer ao Tribunal as provas que atenuariam sua pena. Mas, para isso, ele teria que revelar o maior segredo de sua ex- amante...
E porque não o fez? Por respeito à vontade dela?
Por amor, para não revelar um segredo que nem mesmo ela ousou confessar?
Para não manchá-la da vergonha de ser uma analfabeta, ali, diante de todos?
Por fraqueza? Talvez.
Ou ele a estaria punindo por seus crimes nazistas?
Trilharam caminhos diferentes e um enorme abismo erguera-se entre eles.
Suas almas estavam, inexoravelmente, divorciadas.
Condenada injustamente, a musa suicida-se na prisão e agora, mesmo que ele queira, nada mais pode ser feito e ele compreende amargurado o quanto ela marcou sua vida e que, arrependimentos tardios não a trarão de volta.
Com interpretações intensas e impecáveis de Kate Winslet (que levou o Oscar de Melhor Atriz, pelo trabalho) e Ralph Fiennes, dois grandes atores, a obra do diretor que foi indicado ao Oscar em todos os seus filmes (embora não tenha sido contemplado em nenhuma das indicações), é marcada pela sensibilidade, o que hipnotiza o espectador até a última seqüência.
O mistério segue o seu caminho: estaria o enigma de Hanna escondido numa latinha de chá?
Lola Laborda é Bacharel em Artes/ Cinema e audiovisual/UFBA

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